TRANSPORT QUALIFICATION

BOAS PRÁTICAS NA QUALIFICAÇÃO DE TRANSPORTE

Entende-se que as Boas Práticas de Transporte (BPT) é um desdobramento das Boas Práticas de Fabricação (BPF) e podem ser definidas como requisitos e procedimentos aplicáveis aos estabelecimentos para controlar os fatores de risco a saúde humana, garantir a qualidade nos transportes utilizados para assegurar a eficácia e segurança de produtos sujeitos a vigilância sanitária.

A diretriz WHO TRS 937, em seu anexo 9, é uma importante referência para as BPT atuais e indica que devemos dar especial atenção aos produtos sujeitos a vigilância sanitária que necessitam de cuidados para o transporte.

A qualificação térmica poder ser definida como um conjunto de ensaios realizados para atestar e documentar que um sistema isotérmico foi validado ou está funcionando corretamente, levando aos resultados esperados, estes podem ser classificados em:

Qualificação de Operação: É a evidencia documentada obtida através de testes laboratoriais que estabelecem as condições controladas que uma embalagem isotérmica opere conforme previsto,

Qualificação de Performance: É a evidencia documentada que uma embalagem isotérmica foi desenhada de acordo com os procedimentos e requisitos de Boas Práticas de Transporte de um estabelecimento, baseados em suas características de transporte e normas climáticas do Brasil.

evidencia documentada que uma embalagem isotérmica foi desenhada de acordo com os procedimentos e requisitos de Boas Práticas de Transporte de um estabelecimento, baseados em suas características de transporte e normas climáticas do Brasil.

Monitoramento do Processo: Acompanhamento da eficiência da configuração qualificada (Ex.: instrumentos de registros de temperatura e/ou umidade do tipo químico).

A qualificação de performance das embalagens sob as modalidades de transporte utilizadas por uma distribuidora ou qualquer outro estabelecimento deverá ser avaliada e os testes aplicados com base na (ASTM D4169 e ASTM D3102-92) para determinar o padrão de embalagem e sua vida fria. Outra importante diretriz utilizada como referência para determinação dos padrões de embalagem e aplicabilidade dos testes em laboratório é o Guia Internacional de Embalagem e Expedição de Vacinas da Organização Mundial de Saúde.

Foi definido que a Rede de Frio como sendo um conjunto de medidas que garantem a qualidade, segurança e eficácia de produtos termoestáveis a partir da implementação e manutenção das Boas Práticas de Rede de Frio em toda cadeia farmacêutica, respeitando-se os parâmetros de estabilidade para preservar a identidade do produto até sua administração ou aplicação no usuário. Quando a distribuição de produtos termoestáveis conservados entre 2°C a 8°C, o transporte se dá através da utilização de elementos ou materiais de embalagem que constituem um sistema isotérmico capaz de retardar os efeitos negativos.

Para a realização do estudo em campo (qualificação de performance) é necessário através da caracterização de rotas “quentes”, que estabelecem uma condição critica de transporte para comprovar a exposição excessiva de embalagens isotérmicas ao calor.

OBJETIVO

Qualificar o transporte de produtos termolábeis entre os elos de distribuição, utilizando como base metodológica as referências bibliográficas de órgãos internacionais juntamente com as normas brasileiras, comprovamos que a Qualificação térmica de embalagem é uma ferramenta útil que auxilia na manutenção da qualidade, segurança e eficácia dos produtos farmacêuticos e assim trazendo confiabilidade ao seu processo, conforme descritas a seguir:

  • Qualificar-se através de evidencias documentadas, embalagens isotérmicas utilizadas para a distribuição de produtos termo instáveis sujeitos a vigilância sanitária;
  • Estabelece o melhor desenho para uma configuração de embalagem isotérmica utilizada no transporte de produtos termo instáveis, que satisfaçam as exigências da rede de frio;
  • Monitora a temperatura das embalagens isotérmicas para definir a vida fria (tempo máximo de transporte em horas) sempre acompanhando os critérios de aceitação definidos pelo Protocolo de Qualificação Térmica;
  • Agrega valor ao sistema de distribuição de produtos termo instáveis por meio da avaliação de riscos sanitário.

O processo de qualificação térmica de transporte segue definido como:

Material utilizado

Geralmente utiliza-se caixas térmicas ou dependendo da temperatura que é necessária para se transportar o produto, utiliza-se bolsas térmicas

Caixas Térmicas

Independente do material de embalagem utilizado no transporte é necessário fornecer dados para o conhecimento da embalagem.

Elemento frio

Para manter a temperatura dentro da embalagem, coloca-se o elemento frio que no caso, atualmente, utiliza-se o conhecido Gelox, que nada mais que um gel ou até mesmo somente a água, em uma temperatura abaixo de zero, pois precisa estar congelado.

Conteúdo

Especificar o conteúdo interno do elemento frio, tais como:

Ph;
Viscosidade;
Densidade;
Solubilidade.

Termo isolante

O produto não pode entrar em contato direto com o elemento frio, para isso não ocorrer utiliza-se placas de EPS, plástico bolha ou S-pack, assim não corre risco de ter um congelamento ou até degradação da embalagem.

Registradores de temperatura
Os registradores de temperaturas são os aparelhos que aquisita a temperatura por determinada quantidade de tempo e fornece dados em forma de gráficos e tabelas para saber se a temperatura esperada foi mantida pelo tempo esperado conservando assim a qualidade do produto.
Deve-se fornecer alguns dados referentes a esses aparelhos tais: Critério de aceitação: O transporte de produtos termo instáveis deve ocorrer em um determinado período de tempo de acordo com o que irá se transportar, a quantidade, e como será transportado. Neste período a temperatura ambiente deverá apresentar registros de 2 a 8ºC.

O método é proposto de acordo com o protocolo de qualificação térmica do cliente.
Normalmente antes do início dos testes, os elementos frio são acondicionados por no mínimo 72 horas em câmara congeladora ou freezer com temperatura ambiente de -15 +/- 5ºC e o conteúdo simulativo é acondicionado por no mínimo 12 horas em câmara fria com temperatura ambiente entre 2 a 8ºC.
Monitora-se o estudo em 3 pontos internos com os registradores de temperatura, sendo os mesmos dispostos na diagonal, no fundo, no meio e na tampa, e os

registros de temperatura são realizados com intervalo de 5 min.
As embalagens são monitoradas com registrador de temperatura posicionado próximo ao produto no centro da embalagem isotérmica e um registrador

externo, para monitorar a temperatura ambiente durante o transporte.
Alguns dados do transporte devem ser analisados, para determinar um layout adequado para a montagem dos produtos nas caixas juntamente com o elemento frio.

FUNCIONAMENTO DO TESTE

Campo: São montadas 3 cargas máximas e mínimas de todas as caixas e com todos os produtos que serão transportados e determina um local para o envio.

Datas: Estabelece datas para o envio da carga, sendo no mínimo 3 datas.
Para cada local de envio deve-se enviar 3 cargas máximas e mínimas, em 3 datas distintas, sendo assim são enviadas no total, para o mesmo lugar, 9
cargas máximas e mínimas.
As embalagens são montadas conforme a rotina da empresa e seu procedimento.

RESULTADOS E APROVAÇÕES

Os resultados são apresentados de acordo com os dados aquisitados nos registradores de temperatura. Este são apresentados em forma de tabela e também em forma de gráficos e registros internos e inseridos em um relatório padrão da empresa contratada que será entregue ao cliente.

Neste relatório é necessário conter os certificados de calibração do registrador de temperatura, critério de aceitação do equipamento, tempo de estudo, informações de máxima, mínima e média, dados brutos, fotos e desenhos da distribuição dos sensores, quantidade de sensores utilizados no estudo.

Um bom processo de qualificação pode ser seguido conforme fluxo abaixo:

Para aprovação deve conter uma folha contendo os dados e assinaturas de toda a parte técnica responsável pelos testes, FISPQ (FICHA DE INFORMAÇÃO DE SEGURANÇA DE PRODUTOS QUÍMICOS) e se o elemento frio não for composto apenas por água deve-se apresentar uma ficha contendo as informações necessárias sobre o produto.

CONCLUSÃO

A atividade de uma distribuidora consiste na aquisição de produtos, no seu armazenamento e na responsabilidade pelo transporte ao setor varejista, hospitalar e clínicas para venda ou dispensação ao usuário.

Tendo como base o Sistema de Gestão da Qualidade e o Manual de Boas Práticas de Distribuição, as etapas desse processo deverão ser controladas e supervisionadas com rigor e os esforços serão dirigidos para a conservação dos produtos termo instáveis, amparados pelas diretrizes internacionais e normas sanitárias vigentes, pois assim como na fabricação (BPF), preconiza-se a implantação de procedimentos para melhorar continuamente a qualidade em toda cadeia de distribuição.

Com a publicação da RDC 430/20 o Brasil terá grandes desafios nessa área, pois o Brasil é um país de clima tropical, classificado como região de zona IV B e com normas climáticas que variam do subtropical (região Sul) ao equatorial (região Norte).

Sabe-se que a rede de frio não tolera exclusões de temperatura, embora alguns estudos de estabilidade indicam que pequenas variações deste parâmetro não comprometam a qualidade, eficácia e segurança dos produtos.

Portanto, conclui se a embalagem é apta ou não para realizar o transporte correto do produto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC 234/18. A importação de Produtos Biológicos em sua embalagem primária e o Produto Biológico Terminado sujeitos ao Regime de Vigilância Sanitária somente poderão ser efetuada pela empresa detentora do registro e legalmente autorizada para importar medicamentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RE 01/05. Guia para Estudos de Estabilidade. Diário Oficial da União. Brasília, 29 Julho 2005

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. A RDC 430/20 – Dispõe sobre as Boas Práticas de Distribuição, Armazenagem e de Transporte de Medicamentos.

THE UNITED STATES PHARMACOPEIA, General Chapters: Pharmaceutical Stability. Oficial, 5 Mai 2005

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Technical Report Series 937/06. Who Expert Committee on Specifications for Pharmaceutical Preparations. 40ª th. Geneva. 2006.

ZARDO, H. Curso Boas Práticas de Armazenamento, Transporte e Distribuição de Medicamentos: contribuição para a visão integrada das necessidades e regulamentos. Sindicato da Indústria Farmacêutica. São Paulo. 2010. 18p

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING & MATERIAL. ASTM D4169-98. Standard Practice for Performance testing of Shipping Containers and Systems. 1998.

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING & MATERIAL. ASTM D3102-92. Standard Test Method for Thermal Insulation Quality of Packages. 1992.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Department of Vaccines and Biologicals. Guidelines on the International Packaging and Shipping of Vaccines. Geneva.2001.

GORGULHO, D. Curso Logística Farmacêutica: Boas Práticas de Rede de Frio. Instituto Racine de Educação e Pesquisa Ltda. São Paulo. 2010.

INTERNATIONAL CONFERENCE ON HARMONISATION. Stability testing of new drug substance and products. Guideline Q1A (R2). 2003.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 2233:2000. Packaging – Complete, filled transport packages and unit loads: conditioning for testing. 2000.

Escrito por:

João Alfredo – Estudante do 2° ano de Engenharia de Produção na Universidade Estácio de Sá de Ribeirão Preto.
Atuo na área de Qualificação Térmica há 11 anos, que com minha experiência decidi disseminar meus conhecimentos.

Participante do IQQV desde o início de 2021.

Atual Diretor da empresa JV QUALIT Consultoria em Análises Técnicas.

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